sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Virtude ou veneno?

Virtude ou veneno
Rodolfo Garcia Montosa
Publicado em 15.12.2009


“Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda Satanás!”
Mateus 16.23

Minutos atrás desta grande repreensão, o apóstolo Pedro havia sido publicamente elogiado por sua espantosa declaração: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (v.16). De repente, o discernimento perde lugar para a estultice. O bom comunicador é requisitado a se calar. O sabedor revela ignorância. A boa iniciativa perde lugar para a precipitação. O amigo torna-se inimigo. Mas o que aconteceu?

Pessoas fracassam em sua carreira por fenômenos comportamentais. As falhas na caminhada decorrem de quem realmente as pessoas são e como agem em certas ocasiões. É curioso notar que a mesma virtude adotada em certo ambiente, torna-se defeito quando ultrapassa certos limites.

O remédio torna-se veneno quando aplicado em dosagem excessiva. Qualquer qualidade de personalidade pode ser a própria pedra de tropeço, e o risco é proporcional à amplitude do talento.

Assim é que o autoconfiante torna-se arrogante quando pensa que está sempre certo e os demais sempre errados. O carismático torna-se melodramático quando precisa ser o centro das atenções. O extrovertido torna-se temperamental quando as vulnerabilidades de sua alma dominam suas palavras. O discreto torna-se retraído quando se fecha para as difíceis interações relacionais. O racional torna-se cético quando “acredita” somente na objetividade de dados e fatos.

O perspicaz torna-se ardiloso quando invade os limites de normas e leis. O criativo torna-se excêntrico na busca insaciável de ser diferente. O crítico torna-se resistente quando contrariado em sua opinião. O detalhista torna-se perfeccionista quando se concentra demasiadamente no micro perdendo a visão do macro. O político torna-se bajulador quando teme perder sua popularidade.

Como evitar que nossa melhor virtude não se torne um veneno na caminhada? É fundamental a criação de um ambiente de discernimento e expressão quando se ultrapassa o limite. O melhor tempero é quando se equilibra firmeza com ternura, franqueza com brandura, transparência com respeito, verdade com afeto.

É necessário amigos maduros na caminhada, do tipo que Jesus foi para Pedro ao alertá-lo duramente que estava passando dos limites. Foi assertivo como expressão de amor. E Pedro sabia disso, por isso não ficou melindrado.

Pergunte sempre se sua virtude está virando veneno, se seus atributos tornaram-se defeitos. Perceba o que estão dizendo aqueles que estão interagindo com você, mesmo quando não utilizam palavras.

Aprenda o momento de acelerar, frear, ou dar um passo para trás seguindo a ordem “arreda Satanás”.

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